quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Chance para a superação

Pernambucano, pai do primeiro bebê do país a se submeter a tratamento de células-tronco na China vai abrir clínica de reabilitação com tecnologia asiática no Recife


Um exemplo de superação não surge todo dia. E essa lição rara quem dá é o analista de sistemas Carlos Edmar Pereira, pai de Clarinha. Ele teria todos os motivos para lutar, junto com a esposa Aline, pela recuperação da filha vítima de paralisia cerebral, que sem poder se sentar, mexer e engatinhar, estava desenganada pelos médicos. E lutou: fez campanha na internet, mobilizou mídia e amigos e conseguiu que o bebê, na época com pouco mais de um ano de vida, fosse o primeiro no Brasil a se submeter ao tratamento de células-tronco na China.

Evolução de Clarinha incentivou os pais a abrir a clínica Foto: Jaqueline Maia/DP/D.A Press


Hoje, aos três anos recém-completados no último dia 11, Clarinha já mexe o pescoço, come alimentos sólidos e estuda. Carlos poderia ter parado aí, mas seu comprometimento e amor pelo assunto não se esgotam em causas pessoais. Ele quer que outros, que passam pela mesma situação, tenham acesso, pelo menos, à técnica de fisioterapia inovadora que Clarinha recebeu por um mês enquanto estava no continente asiático. Um anseio que está prestes a se concretizar.


Até dezembro, CarlosEdmar promete abrir uma clínica de fisioterapia e reabilitação com know-how e tecnologia chineses no Recife. A Reamo Beike, como deve ser chamada, só foi possível graças a uma parceria com a empresa de biotecnologia Beike Biotech, sediada em Shenzhen (China), a mesma que tratou Clarinha. Além do apoio de dois profissionais fisioterapeutas chineses, a expectativa é que o espaço conte com maquinário com tecnologia de ponta da Ásia, que virá de navio dentro de contêineres.

O projeto da nova clínica recifense ainda está em fase de documentação (registro de CNPJ e contrato social), mas o convênio já está firmado. A Biotech garantiu o investimento de cerca de U$ 80 mil no espaço que deve funcionar em um imóvel de 300 metros quadrados em Boa Viagem (Zona Sul). A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, também apoia a iniciativa. Um mês é o prazo previsto para o início da reforma.


"Estamos trazendo a clínica para somar", justifica Carlos. "Fui lá na China e vi que os resultados são muito bons. Na Europa, abriram uma clínica da Beike há pouco tempo e está fazendo grande sucesso. E quero trazer isso para minha cidade", frisou. Carlos disse que o local terá capacidade de atender de sete a dez pacientes simultaneamente, a preço 50% abaixo do mercado, e também oferecerá massagem e acupuntura. A ideia é atender pessoas de qualquer idade com sequelas de acidentes, lesão medular, degenerativa e motora e vítimas de trauma crânioencefálico. 



O espaço físico deverá adaptado conforme as recomendações do Conselho Regional de Fisioterapia, com piso liso, banheiros com barras de apoio e corredores mais largos para a passagem de cadeira de rodas. Carlos informou que dará entrada no mesmo órgão para regulamentar o registro dos fisioterapeutas chineses que atuarão na clínica ao lado de profissionais brasileiros. Outra intenção é ampliar o tempo médio de uma sessão de meia hora para 45 minutos. " 


Metodologia tem proposta inovadora

A Reamo Beike, quando estiver em funcionamento, irá oferecer tecnologia inédita em Pernambuco. Entre elas, o Therasuit, método aplicado originalmente pela indústria espacial que a medicina se apropriou para restabelecer movimentos em pacientes. A técnica consiste em uma veste especial com elásticos que realinham o corpo e estimulam pessoas com paralisia cerebral a moverem músculos sob o comando próprio. No Brasil, poucas clínicas utilizam esse material, há registro de pelo menos uma empresa particular em São Paulo. A metodologia da Beike, empresa criada em 1999 na China, tem outra proposta inovadora, chamada de "contenção reduzida", que torna mais ativa a sessão de fisioterapia ao orientar o paciente a fazer movimentos localizados apenas naquela parte afetada. 

"Eles colocam sacos de areia ou tecido para imobilizar as partes do corpo que não interessam e pedem que o paciente mexa apenas a parte com problema nos movimentos. Isso é ótimo, porque quem tem paralisia no cérebro não consegue mandar sinais nervososcorretamente e, por isso, o corpo se mexe por inteiro", explica Carlos, que, apesar de leigo, tem um domínio sobre o assunto digno de um profissional. Ele disse que Clarinha faz fisioterapia duas vezes por semana na AACD, na Joana Bezerra. "Não queremos desmerecer as demais técnicas, mas o que iremos trazer é a melhor metodologia do mundo", disse.


A jovem Yoko Farias, que voltou há dois meses de terapia semelhante à Clarinha na China, comemorou a criação da nova clínica. "Fiquei muito feliz em saber que a Beike vem pra cá. Fiquei um mês lá e pude perceber melhoras significativas", comentou a estudante, que faz sessões de fisioterapia quatro vezes por semana e voltou a ter sensibilidade nos braços e a apresentar mais movimentos involuntários nas pernas. Em 2011, ela pretende voltar à China para continuar o tratamento para receber mais sete aplicações de células-tronco e fazer fisioterapia. 



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