Se a esperança é a última que morre, é ela também a primeira a acreditar. Pelo menos é nisso que aposta a professora Rita Renjiffo, mãe de Matheus, 4 anos, portador de paralisia cerebral.
Quando soube da possibilidade de tratamento com células-tronco, oferecido no exterior, Rita não teve dúvidas: reuniu esforços e amigos e iniciou uma campanha para arrecadar dinheiro e levar o filho até um destino praticamente desconhecido: a China.
Apesar de difícil, a jornada não é incomum e já ganhou até nome: “Turismo terapêutico”, que é o movimento de pessoas em busca de tratamentos não encontrados ou não permitidos em seus países de origem.
Como as terapias com células-tronco estão em fase de pesquisa e testes clínicos são restritos, doentes muitas vezes se arriscam em tratamentos não reconhecidos pela sociedade médica.
Em Salvador, por exemplo, pelo menos cinco famílias realizam campanhas com esse objetivo: ir à China em busca de uma terapia experimental não documentada. Um fenômeno iniciado em 2009, quando a primeira criança brasileira conseguiu o feito.
Experiência - Clara Costa Pereira, hoje com 3 anos, portadora de paralisia cerebral, foi a pioneira. Passados dois anos de sua viagem, a família comemora os avanços. "Clara está na escola e já conhece cinco cores", dimensiona o pai, Carlos Edmar Pereira. Antes, ela tinha dificuldades até para sustentar o pescoço e se alimentar.
Depois da experiência, Carlos acabou se tornando representante brasileiro da empresa responsável pela terapia aplicada na filha. Em um blog, ele oferece informações sobre essa alternativa e relata as melhoras da filha: “ela está comendo tudo, antes não conseguia engolir sólidos. A parte cognitiva também melhorou muito”.
Não há certeza médica se os avanços estão diretamente ligados às aplicações de células-tronco. Mas, para Carlos, não há dúvidas. "Clara fez fisioterapia desde a maternidade, sem retorno. Quando se quer resultados diferentes é preciso mudar o caminho escolhido", diz.
Críticas - Apesar disso, na comunidade médica, terapias celulares ainda são vistas com cautela. “A recomendação é que se procure universidades que tenham protocolo para realização de testes clínicos ”, orientou o presidente da Associação Brasileira de Engenharia de Tecidos e Estudos das Células Tronco (Abratron), Ithamar Stocchero. Segundo ele, apenas doenças do sangue já têm sucesso comprovado pelo tratamento com células-tronco.
Esperança - Ciente dos riscos, Rita ainda assim prefere tentar: "Se eu não fizer, vou viver com essa dúvida. Vai ficar na cabeça a ideia de que não tentei tudo. Daqui a quatro ou cinco anos pode ser tarde demais para o organismo dele", avaliou a professora.
A luta de Matheus começou ainda na gestação. Com cinco meses de gravidez, Rita teve sangramentos e foi diagnosticada com adramnia (ausência de líquido amniótico). Para os médicos, o feto não vingaria e o próprio corpo iria se encarregar de o expelir.
Matheus nasceu um mês depois e foi direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da maternidade. "Se ele voltar (da China) mastigando ou sustentando o tronco já terá valido a pena", comentou a mãe do garoto.
Fonte: A tarde Online
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