PARIS — Cientistas americanos informaram ter produzido as primeiras células-tronco de espécies ameaçadas, um avanço que pode salvar dezenas de animais à beira da extinção.
"A melhor forma de lidar com a extinção é preservar espécies e habitats, mas nem sempre isto funciona", explicou, em um comunicado, Oliver Ryder, diretor de genética do Zoológico de San Diego e um dos chefes da pesquisa.
"A tecnologia de células-tronco dá algum nível de esperança de que (as espécies) não precisarão se extinguir, mesmo que tenham sido completamente eliminadas de seu habitat", acrescentou.
Este é o caso do rinoceronte branco do norte, um dos dois primeiros animais incluídos no "zoo de células-tronco" de Ryder.
A espécie conta com apenas sete espécimes vivos, todos mantidos em cativeiro, dois deles em San Diego.
Os cientistas também isolaram células-tronco de um primata criticamente ameaçado, denominado dril, considerado geneticamente um primo próximo dos humanos.
Em cativeiro, os dris costumam sofrer de diabetes, doença que os cientistas tentam tratar em humanos com terapias de células-tronco.
A equipe de Ryder coletou células da pele e outras amostras de tecido de mais de 800 espécies - armazenadas em um "zoo congelado" - em 2006.
Foi quando ele fez contato com Jeanne Loring, professora do Instituto de Pesquisas Scripps, em La Jolla, perto de San Diego, e outra chefe da pesquisa. Ele queria saber a possibilidade de usar o banco para gerar e armazenar células-tronco.
Na época, cientistas que buscavam usar células-tronco para tratar doenças humanas ainda não tinham descoberto uma técnica confiável para transformar células adultas normais em células-tronco que pudessem dar origem a quase todos os tipos de tecidos e células do corpo.
Hoje, no entanto, este processo - chamado pluripotência induzida - é frequentemente alcançado ao se inserir certos genes em células normais.
A princípio, Ryder e Loring tentaram usar genes de animais com parentesco próximo às espécies-alvo, de forma a provocar a transformação, mas os experimentos fracassaram.
Por tentativa e erro, no entanto, eles descobriram para seu espanto que os mesmos genes que induzem a pluripotência em humanos também funcionavam no dril e no rinoceronte.
Segundo o estudo, publicado na edição dominical da revista Nature Methods, o processo revelou-se ineficaz, uma vez que gerou apenas poucas células-tronco por vez. Mas foi suficiente para dar início ao "zoo de células-tronco".
Talvez o maior potencial em ajudar espécies ameaçadas - além do tratamento de doenças - sejam novas estratégias reprodutivas.
Se células-tronco adultas podem dar origem a espermatozóides ou óvulos, por exemplo, os cientistas poderiam, então, usar células da pele congeladas de animais mortos no "Zoo Congelado" para produzir gametas masculino e feminino e dar origem a uma nova vida.
As células-tronco induzidas poderiam ser combinadas com os óvulos de animais vivos através de fertilização in vitro.
Outra alternativa seria que tanto os óvulos quanto os espermatozóides poderiam ser gerados de células-tronco e os embriões resultantes poderiam ser implantados em animais hospedeiros, um processo que os cientistas dizem ser muito mais confiável do que as técnicas de clonagem.
"Eu acho que o trabalho será muito mais fácil, do ponto de vista ético, com espécies ameaçadas do que com humanos", afirmou Loring em um comunicado.
"Suspeito que algumas pessoas que trabalham nesta área adorariam fazer experimentos com nossas células", acrescentou.
Tais técnicas também ajudariam a impulsionar a diversidade genética, ao incrementar o pequeno número de indivíduos vivos de uma espécie reduzida, explicou.
Mesmo que os rinocerontes brancos do norte se reproduzam - o que não acontece há anos - a pequena piscina genética pode, facilmente, gerar animais não saudáveis.
Fonte: AFP
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