Pioneira nos estudos com células-tronco embrionárias, a empresa americana Geron anunciou que vai interromper os trabalhos no campo de pesquisas que ajudou a criar. Embora a companhia afirme que a decisão não reflete sua falta de confiança no setor — a Geron é responsável pelos primeiros testes clínicos em seres humanos de uma terapia que usa células-tronco de embriões para regenerar medulas espinhais lesionadas —, ela está sendo considerada um forte golpe na área e não foi bem recebida por representantes de fundações e associações ligadas aos estudos sobre paralisias.
— Estou enojado — afirmou Daniel Heumann, integrante do conselho de administração da Fundação Christopher e Dana Reeve, ao “Washington Post”. — Deixa-me doente ver eles pegarem as esperanças das pessoas e depois tomarem essa decisão apenas por questões financeiras. Estão nos tratando como ratos de laboratório.
Baseada na Califórnia, a Geron ajudou a pagar pelas pesquisas iniciais com células-tronco embrionárias feitas na Universidade de Wisconsin nos anos 90, o que lhe garantiu patentes fundamentais na área. No ano passado, após longa batalha com a FDA, a agência que controla remédios e alimentos nos EUA, ela finalmente obteve permissão para iniciar testes clínicos de uma terapia com células-tronco.
Nos testes, pessoas paralisadas por lesões na medula receberam injeções de células nervosas derivadas de células-tronco embrionárias. Até o momento, porém, nenhum dos quatro pacientes deu sinal de melhora. Masisso não era esperado nos testes iniciais, contou John Scarlett, presidente da Geron, destacando que eles foram idealizados para avaliar a segurança da terapia e neste ponto teriam sido um sucesso.
— Acredito profundamente na promessa das células-tronco — disse Scarlett, que agora pretende concentrar os recursos e esforços da empresa em terapias experimentais contra o câncer que estão mais adiantadas em seu desenvolvimento. — Não creio que essa promessa mudará de qualquer forma.
Embora a Geron tenha informado que não vai iniciar novos testes, as pesquisas com os quatro atuais pacientes continuarão, acumulando dados a serem repassados para a comunidade científica.
Entre os pacientes está Timothy Atchison, de 21 anos. Em outubro de 2010, ele recebeu injeções com milhões de células, após ficar paralítico devido a um acidente de carro semanas antes. Animado com sua participação nos testes clínicos, em abril deste ano o rapaz decidiu revelar sua identidade ao mundo.
Scarlett, que assumiu a presidência da Geron há menos de dois meses, disse que a empresa não está deixando o setor por causa dos resultados dos testes clínicos, mas pela necessidade de economizar frente às dificuldades para levantar recursos para suas pesquisas. Segundo Scarlett, a Geron espera vender ou licenciar suas pesquisas com células-tronco para outra empresa que possa levá-las à frente.
Uma potencial candidata é a Advanced Cell Technology (ACT), única outra companhia a conduzir testes clínicos com células embrionárias. A ACT transformou as células-tronco em células da retina que foram implantadas nos olhos de duas pessoas sofrendo de duas formas diferentes de degeneração macular, que pode levar à cegueira. Até agora, não foram relatados resultados dos testes.
— Isso é muito ruim para o setor — comentou Robert Lanza, cientista-chefe da ACT, sobre a decisão da Geron. — Haverá mais pressão para que tenhamos resultados favoráveis — acrescentou ele, para quem o tratamento de lesões na medula não foi a escolha ideal para os primeiros testes clínicos da tecnologia, pois é muito difícil demonstrar sua eficácia.
Fonte: O Globo
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